Naquela altura em que todas as meninas queriam ter o primeiro namorado, eu queria era ter boas notas e ler o maior número de vezes possível a saga Harry Potter. Queria deixar crescer a franja, ver todos os dias os Morangos Com Açúcar e continuar sem borbulhas. Nos primeiros anos da puberdade, este plano de vida infalível resultou. O pior foi mesmo a entrada nos catorze anos. Já sem franja, mas ainda com a tara do Harry Potter e dos Morangos Com Açúcar, as hormonas revolveram-se, mostrando-me que há mais na vida para além das boas notas.
Todos os dias era uma paixão diferente. O rapaz mais giro da escola num dia, o rapaz que sabia desenhar no outro, até mesmo os gordinhos, faziam-me sorrir cada vez que ia para a escola. Aí comecei a desenvolver a arte do atribuir defeitos e qualidades que me faziam sempre ficar arrebatada pelo primeiro (quem é que não ficou?).
No secundário, a conversa já era outra: havia demasiados rapazes bonitos para escolher. Então houve necessidade de observar com rigor os defeitos e qualidades dos ditos cujos. E assim descobri a tara que tenho, já não pelos Morangos Com Açúcar, mas sim por narizes. Para mim é crucial que um rapaz tenha o nariz bonito. Nada de altos e protuberâncias, nada de pontas abatatadas. Também não convém ser muito empinado. Bonito e elegante, ponto. Não consigo definir melhor mas se vir um sei identificá-lo perfeitamente. São raras as pessoas que me compreendem nesta minha jornada pelo nariz mais bonito.
É claro que se o resto da embalagem chamar a atenção, se existirem sardas à mistura e o rapaz for ruivo, eu já me dou por contente.